26 de novembro de 2011

Convocado o Concílio ... "O crime contra Fátima tinha começado"

       Neste ponto da nossa exposição, e especialmente para o leitor não-Católico, deve realçar-se que as mudanças na orientação básica da Igreja (que iremos discutir) não têm qualquer antecedente na História da Igreja Católica e constituem-se, talvez, como a Sua pior crise. Um estudo atento daquilo que se lhe segue evidenciará porque é que a Mensagem de Fátima, com o seu apelo à consagração e conversão da Rússia como arauto da Paz no mundo, se tornou inaceitável para aqueles homens da Igreja, liberais e politicamente correctos, dos passados 50 anos. Estas mudanças - sem paralelo - não foram um benefício, antes um grande prejuízo, para os não-Católicos: o resultado da “modernização” da Igreja incluía não apenas os escândalos que hoje vemos entre o Clero, como também a incapacidade, por parte do elemento humano da Igreja, de realizar um acto - a solene Consagração da Rússia - que traria benefícios a toda a Humanidade.

Um Concílio é convocado e a
Mensagem de Fátima começa a ser atacada

       E aconteceu tal como D. Lambert vaticinou. Roncalli foi eleito, tomou o nome de João XXIII, convocou um Concílio e consagrou o ecumenismo. A “revolução de tiara e capa”, prevista pela Alta Vendita, estava em marcha.

       Um dos primeiros actos da revolução foi pôr de lado o Terceiro Segredo de Fátima. Contrariando as expectativas do mundo inteiro, a 8 de Fevereiro de 1960 (pouco mais de um ano após a convocação do Concílio), o Vaticano divulgava a seguinte notícia anónima, através da agência noticiosa A.N.I.:

       Cidade do Vaticano, 8 de Fevereiro de 1960 (A.N.I.) -«Acaba de ser declarado em círculos altamente fidedignos do Vaticano que é muito possível que nunca venha a ser aberta a carta em que a Irmã Lúcia escreveu as palavras que Nossa Senhora confiou aos três pastorinhos, como segredo, na Cova da Iria (...) É muito provável que o “Segredo de Fátima” fique para sempre sob absoluto sigilo.»

       E encontramos, na mesma comunicação, o primeiro ataque directo de fontes do Vaticano à credibilidade da Mensagem de Fátima, no seu todo:

       Embora a Igreja reconheça as aparições de Fátima, Ela não se compromete a Si própria garantindo a veracidade das palavras que os três pastorinhos dizem ter ouvido de Nossa Senhora.

       Dizem ter ouvido? Poderia haver alguma dúvida sobre a veracidade do seu testemunho, depois do Milagre do Sol? Poderia alguém questionar terem eles recebido do Céu uma profecia autêntica, sabendo-se que, até então, se tinham cumprido todas as predições da Mensagem - desde o fim iminente da I Guerra Mundial até ao facto de se espalharem os erros da Rússia, desde a II Guerra Mundial até à eleição do Papa Pio XI?

       Este primeiro ataque declarado contra a Mensagem de Fátima vindo do interior do aparelho de Estado do Vaticano surge em 1960, à medida que o Vaticano começa a seguir uma nova orientação da Igreja, que (como veremos em seguida) desabrochará com o Concílio Vaticano II. Consideremos estes factos, relacionando-os com o comunicado de 8 de Fevereiro de 1960:

O comunicado põe em causa publicamente a credibilidade de Lúcia, Jacinta e Francisco.
A partir de 1960, a Irmã Lúcia foi silenciada por ordem do aparelho de Estado do Vaticano5, para que não pudesse defender-se da acusação implícita de que o seu testemunho não era de confiança.
Os documentos do arquivo oficial de Fátima, que o Padre Alonso iria compilar entre 1965 e 1976 (mais de 5.000 documentos, em 24 volumes), serão impedidos de ser publicados - embora tais documentos confirmem que as profecias de Fátima, nas duas primeiras partes do Segredo (a eleição do Papa Pio XI, o desencadear da II Guerra Mundial, a expansão do Comunismo pelo mundo, etc.), tinham sido reveladas em privado pela Irmã Lúcia muito antes de se terem cumprido, e que o seu testemunho era completamente correcto e fiável.
       O crime tinha começado. E agora o motivo para o crime - o desejo de mudar a orientação da Igreja, afastando-A das certezas católicas da Mensagem de Fátima e aproximando-A de uma “iluminada” acomodação da Igreja ao mundo - começaria resolutamente com o início do Concílio Vaticano II em 11 de Outubro de 1962. Recordamos mais uma vez as palavras da Irmã Lúcia: que Nossa Senhora desejava que o Terceiro Segredo fosse revelado em 1960, porque seria então “mais claro”. Agora tornar-se-ia, realmente, muito claro.

Os “erros da Rússia” infiltram-se na Igreja

       Primeiro, e ainda antes da abertura do Concílio, houve mais uma traição à Mensagem de Fátima - sinal de muitas coisas sem precedentes que iriam acontecer. Na primavera de 1962, em Metz, França, o Cardeal Eugène Tisserant encontrou-se, nada mais nada menos, com o Metropolita Nikodim, da Igreja Ortodoxa Russa - um agente do KGB, tal como o eram os outros prelados ortodoxos. Nesse encontro, Tisserant e Nikodim negociaram o que viria a ser conhecido como o Pacto de Metz, ou, mais popularmente, o Acordo Vaticano-Moscovo6. A existência deste Acordo Vaticano-Moscovo é um facto histórico irrefutável, atestado em todos os seus pormenores por Monsenhor Roche, secretário particular do Cardeal Tisserant.

       O acordo era substancialmente o seguinte: o Papa João XXIII, de acordo com o seu ardente desejo, seria “favorecido” com a presença de dois observadores ortodoxos russos no Concílio; em troca, a Igreja Católica concordava que o Concílio Vaticano II não condenaria o Comunismo soviético nem a Rússia soviética. Significava isto, em essência, que o Concílio iria comprometer a liberdade moral da Igreja Católica ao fingir que aquela forma mais sistemática do Mal humano na História da Humanidade (o Comunismo) não existia - apesar de, na mesma altura em que o Concílio iniciava os seus trabalhos, os Soviéticos perseguirem, prenderem e assassinarem milhões de Católicos.

       Restringida assim a liberdade da Igreja num acordo com os Comunistas, o Concílio não fez a menor menção ao Comunismo. Com tal procedimento, o Concílio afastou-se dos ensinamentos do Papa Leão XIII, do Bem-Aventurado Pio IX, de S. Pio X e ainda do Papa Pio XI, que recordaram à Igreja que não podia deixar de se condenar este Mal incomparável. Como este último escreveu na Divini Redemptoris.

       Perigo tão ameaçador, vós já o compreendestes, Veneráveis Irmãos, é o comunismo bolchevista e ateu, que visa subverter a ordem social e abalar os próprios fundamentos da civilização cristã. Diante de tal ameaça, não podia a Igreja Católica silenciar, e não silenciou. Não silenciou principalmente esta Sé Apostólica, que tem consciência de ser missão sua especialíssima a defesa da verdade e da justiça e de todos os bens eternos que o comunismo menospreza e combate7.

       E, contudo, o Concílio não diria uma única palavra sobre o Comunismo soviético; pelo contrário, começaria a época do “diálogo” com as mesmas forças às quais a Igreja anteriormente se tinha oposto.

       Porque é que isto aconteceu? Certamente não foi por “coincidência” que o silêncio do Concílio sobre o Comunismo se sincronizou perfeitamente com a infiltração comunista da Igreja Católica - que, como vimos num capítulo anterior, fora revelada pouco antes do Concílio Vaticano II por testemunhas-chave que não tinham motivo algum para mentir (Dodd, Hyde, Golitsyn, Mitrokhin e outros). Mesmo sem estes testemunhos, o nosso senso comum dir-nos-ia que era inevitável que as forças do Comunismo (actuando ao lado das da Maçonaria) tentassem destruir a Igreja Católica a partir do Seu interior. Satanás é suficientemente inteligente para saber que a Igreja Católica é, por excelência, a Cidadela que ele deve tomar de assalto no seu esforço de conquistar todo o mundo para o reino das trevas.

       Era esta, pois, a situação da Igreja no preciso momento em que o Concílio Vaticano II foi erradamente forçado a observar um silêncio vergonhoso quanto ao Mal do Comunismo. E escusado será dizer que, sob esse Acordo Vaticano-Moscovo, a Consagração da Rússia soviética ao Imaculado Coração de Maria pelos Padres conciliares, como meio de alcançar a sua conversão, estava absolutamente fora de questão. Ora este início de viragem para uma nova orientação da Igreja - que o Concílio iria acelerar de forma muito dramática - estava já em conflito com a Mensagem de Fátima.

       E assim tem continuado a ser desde o encontro de Metz, que aumentou a procura da Ostpolitik, a política implementada pelo Secretário de Estado do Vaticano, sob a qual a Igreja cessou toda e qualquer condenação e oposição aos regimes comunistas, substituindo-as por “diálogo” e “diplomacia serena” - uma política que até hoje tem silenciado o Vaticano sobre a violenta perseguição da Igreja na China comunista.

       Assim, em 12 de Outubro de 1962, dois Padres representantes da Igreja Ortodoxa desembarcaram de um avião no Aeroporto de Fiumicino para estarem presentes no Concílio Vaticano II. E o Concílio começou, tendo observadores ortodoxos a seguir as várias sessões, certificando-se de que o Acordo Vaticano-Moscovo estava a ser cumprido. A intervenção escrita de 450 Padres Conciliares contra o Comunismo “perdeu-se” misteriosamente, depois de ter sido entregue ao Secretariado do Concílio, e os Padres Conciliares que se ergueram para denunciar o Comunismo foram delicadamente aconselhados a permanecerem sentados e calados8.

       Os próprios chefes da Igreja tinham “descido a ponte levadiça” para os Comunistas entrarem e, entretanto, Comunistas e Maçons faziam tudo por tudo para destruirem a Igreja a partir do Seu interior (recordem-se as predições de Bella Dodd):

encorajando «a promoção de uma pseudo-religião: qualquer coisa que se parecesse com o Catolicismo mas que na verdade o não era»;
acusando «a ‘Igreja do passado’ de ser opressiva, autoritária, cheia de preconceitos, arrogante ao afirmar que era a única possuidora da Verdade, e responsável pelas divisões das comunidades religiosas através dos séculos»;
envergonhando os dirigentes da Igreja, para que adoptassem «uma ‘abertura ao mundo’ e uma atitude mais flexível para com todas as religiões e filosofias».
       E finalmente - como Dodd predisse - «Os Comunistas explorariam então esta abertura para subverterem a Igreja».

       Este esforço imenso de subversão implicaria, em primeiríssimo lugar, a implantação da “teologia” modernista num concílio ecuménico - tal como o Cónego Roca e os outros iluminados da Maçonaria já se tinham gabado de vir a suceder.


O Derradeiro Combate do Demonio - cap 6, pag 48 a 51.

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