24 de setembro de 2011

A missa sacrílega - Parte III



O pecado de escândalo

Nos tempos antigos, inventou o demônio deuses fantásticos, entregues a todos os vícios, e empenhou todos os meios para os fazer adorar, a fim de que os homens, perdendo até o horror aos crimes de que as divindades lhes davam exemplo, cressem que lhes era permitido pecar à vontade. Assim confessa o pagão Sêneca, nestes termos: “Por estas invenções, chegou-se a destruir nos homens a vergonha de pecar”533. Não será fomentar os vícios e atribuí-los aos deuses, e desculpar-se do mal como o exemplo da divindade? 534 Imersos em tal cegueira, os desgraçados pagãos, como se vê no mesmo filósofo, diziam:

“O que os deuses fizeram sem vergonha, hão de corar os homens de o fazer?”535


Ora, o que o demônio conseguiu dos pagãos, por meio dessas falsas divindades, que lhes propunha por modelos, hoje o consegue dos cristãos por meio de padres prevaricadores, cujos escândalos persuadem aos pobres seculares, que lhes é permitido, que lhes é permitido, ou pelo menos que não é grande mal para eles, fazerem o que vêem fazer aos seus pastores; é o que nota S. Gregório536. Colocou Deus os padres na terra para servirem de modelos aos outros, do mesmo modo que o nosso Salvador foi enviado por seu Pai para ser o exemplar de todos: Conforme o meu Pai me enviou, assim eu vos envio a vós537. Por isso S. Jerônimo escrevia a um bispo — que evitasse tudo quanto fosse capaz de induzir a pecado os que quisessem imitá-lo538.

Não consiste o pecado de escândalo só em aconselhar diretamente o mal aos outros, mas em levar o próximo a pecar, dum modo indireto, pelo exemplo da própria conduta. “Uma palavra ou ação, mais ou menos repreensível, e que é para o próximo ocasião de ruína espiritual”539, dá escândalo. É assim que se define geralmente o escândalo, segundo Santo Tomás.

E, para se conhecer quanto é grande a malícia do escândalo, basta recordar o que dele diz S. Paulo: que o que ofende o seu irmão, fazendo-o cair em pecado, ofende o próprio Jesus Cristo540. S. Bernardo dá esta razão: que o escandaloso faz perder a Jesus Cristo as almas, resgatadas a preço do seu sangue; e acrescenta que o Salvador sofre uma perseguição mais cruel da parte dos escandalosos, do que da parte dos algozes que o crucificaram541.

Mas se o escândalo é tão abominável mesmo nos seculares, quanto mais o não será no padre, que Deus estabeleceu na terra para salvar as almas e conduzi-las o para o céu! O padre é chamado o sal da terra542. É próprio do sal conservar as coisas: assim o padre é destinado a manter as almas na graça de Deus. Em que se tornarão os outros homens, pergunta Sto. Agostinho, se os padres não produzirem sobre eles o efeito do sal? Então, prossegue ele, esse sal só será bom para ser lançado fora da Igreja e calcado aos pés, por todos os transeuntes543. E, se o sal em vez de conservar não fizesse senão corromper, quero dizer, se o padre, em vez de salvar as almas, só trabalha em as perder, que castigo não chama sobre si! Também o padre é luz do mundo544. Donde S. João Crisóstomo conclui que o padre deve ter uma vida tão radiante de virtudes, que possa alumiar os outros e servirlhes de modelo545. Mas se esta luz se muda em trevas, em que se tornará o mundo? Só servirá para precipitar na ruína o mesmo mundo, como diz S. Gregório546. No mesmo sentido escreveu este grande papa aos bispos de França, exortando-os a castigar os padres escandalosos547. É a palavra do profeta Oséias: Tal padre tal povo548. E pela boca de Jeremias se exprime o Senhor assim: Hei de encher de favores a alma dos meus sacerdotes, e o meu povo será enriquecido dos meus benefícios549. Por isso mesmo dizia S. Carlos Borromeu que, se os padres forem ricos e fecundos em virtudes, também ricos serão os povos; mas, se os sacerdotes forem pobres, bem miseráveis serão os povos550.

Conta Tomás de Cantimpré que um eclesiástico que pregara em Paris, em presença do clero, fôra encarregado pelo demônio de saudar os príncipes da Igreja, e dar-lhe os agradecimentos, da parte dos príncipes do inferno, pelas muitas almas que deixavam perder551. É precisamente do que o Senhor se lamenta pela boca de Jeremias: O meu povo não é mais que um rebanho perdido; os pastores seduziram as suas ovelhas: = Grex perditus factus est populus meus; pastores eorum seduxerunt eos (Jer. 50, 6). É inevitável, diz S. Gregório: quando o pastor caminha para o precipício, as ovelhas vão com ele552. O mau exemplo dos padres, diz também S. Bernardo, necessariamente arrasta o povo à depravação553. Se um leigo, acrescenta ele, se transvia do reto caminho, perder-se-á ele só; mas, se um padre se desgarrar, causará a perdição duma multidão de almas, sobretudo das que lhe estiverem sujeitas554.

Mandou o Senhor, no Levítico, que se imolasse um novilho pelo pecado dum só sacerdote, como pelos pecados de todo o povo; donde Inocêncio III deduz que o pecado do padre pesa tanto como os pecados de todo o povo, e a razão que dá é que o padre, pecando, arrasta ao pecado todo o povo555. Foi o que o próprio Deus declarou no Levítico: Se o sacerdote que recebeu a unção santa vier a pecar, fazendo pecar o povo556... Assim Sto. Agostinho dizia, dirigindo-se aos padres: Não fecheis o Céu aos fiéis; de fato lho fechais, desde que lhes deis o exemplo duma má vida557. Um dia dizia o Senhor a Sta. Brígida, que os pecadores, à vista dos maus exemplos dos padres, se animavam a praticar o mal, e chegavam até a gloriar-se dos vícios, que antes os faziam corar. Assim, o Senhor ajunta que os padres maus serão carregados de maldições, muito mais terríveis que os outros homens, porque a sua má vida, é a ruína deles e também a dos outros558.

À vista duma árvore cujas folhas se mostram amarelentas e murchas, diz o autor da Obra imperfeita, logo se compreende que ela sofre nas raízes; do mesmo modo quando se vê um povo corrompido, pode-se concluir, sem receio de proferir um juízo temerário, que é entre os seus sacerdotes que reina o mal559. Com efeito, ajunta ele, a vida dos padres é a raiz que comunica a seiva das virtudes aos fiéis, que são coo os ramos a respeito da árvore. No mesmo sentido, diz Sto. Ambrósio, que os padres são a cabeça, donde os espíritos vitais se difundem em todos os membros, que são os seculares560. E lê-se em Isaías: Toda a cabeça está esvaecida... Da planta dos pés ao alto da cabeça nada há nela de são561. Palavras que Sto. Isidoro aplica assim ao nosso assunto: A cabeça enfraquecida é o doutor que se entrega ao pecado; o seu mal comunica-se ao corpo562. Do mesmo modo lamenta S. Leão esta desordem e diz que não pode haver saúde no corpo quando não a há na cabeça563.

Santo Ambrósio, servindo-se doutra figura, pergunta: Quem procurará uma fonte de água cristalina no meio de um lamaçal? Por outras palavras, olharia eu como idôneo para me dar conselhos quem não soubesse aconselhar-se a si próprio?564 Diz Plutarco565 que a corrupção dos príncipes é como um veneno lançado, não numa taça, mas numa fonte, onde todos venham colher e beber água que os há de envenenar. O que tem aplicação ainda mais aos padres; por isso Eugênio III disse que os pecados dos inferiores se devem atribuir de preferência aos maus superiores566.

Aos sacerdotes chama S. Gregório — Patres christianorum567. É o título que lhes dá também S. João Crisóstomo, que afirma que o padre, na sua qualidade de vigário de Deus, é obrigado a tomar cuidado de todos os homens, visto que é pai do mundo inteiro568. Assim como um pai se torna duplamente culpado, quando dá mau exemplo a seus filhos, também o padre dalgum modo comete dois pecados, quando escandaliza os simples fiéis. Que fará o leigo, pergunta Pedro de Blois, senão o que vir fazer ao seu pai espiritual? 569. É precisamente o que S. Jerônimo escrevia a um bispo: Os outros acreditarão que devem fazer quanto virem que vós fazeis570. E, conforme nota S. Cesário, ao seguirem os maus exemplos dos eclesiásticos, os leigos desculpam-se dizendo: Não fazem a mesma coisa os eclesiásticos mais graduados? 571 Santo Agostinho põe a mesma linguagem na língua dum homem do mundo: O que é que me mandais? Nem os padres fazem isso, e vós quereis que eu o faça?572 Quando os padres, diz S. Gregório, em vez do bom exemplo, dão escândalo, fazem de algum modo que o pecado deixe de ser aborrecido e inspire horror573.

Tais sacerdotes pois são ao mesmo tempo pais e parricidas, visto que são a causa da morte de seus filhos. Disto se lamentava S. Gregório: “Vêde donde partem os dardos, que semeiam a morte nas fileiras do povo; — qual a causa de tantos males senão os nossos pecados? Sim, damos a morte ao povo, nós que devíamos ser os seus guias nos caminhos da vida574”.

Dirão talvez alguns na sua cegueira: Que me importam os pecados dos outros? — Digam lá o que quiserem, mas escutem o que escreveu S. Jerônimo575: “Se disserdes: ‘Basta-me a minha consciência; não me importo com o que disserem’, escutai o que vos responde o Apóstolo: Devemos aplicar-vos a praticar o bem, não só diante de Deus, mas também diante dos homens576”. Nota S. Bernardo que os padres escandalosos dão a morte aos outros, dando-a a si próprios577. E noutra parte acrescenta que não há peste mais funesta aos povos, que a ignorância e a corrupção unidas nos padres578. Ajunta ainda noutro lugar que muitos padres são católicos na sua pregação, mas hereges nos seus costumes; porque fazem muito maior mal com os seus maus exemplos, que os hereges, ensinando o erro: têm as obras mais força que as palavras579. Segundo Sêneca, para cair no vício, como para chegar à virtude, é longo o caminho do ensino, ao passo que o do exemplo é curto e eficaz580. O que fez dizer a Sto. Agostinho, falando especialmente da castidade dos sacerdotes: A todos é indispensável a castidade, mas especialmente aos ministros do altar de Jesus Cristo, porque a sua vida deve ser uma pregação contínua para os outros581. Como pregar a castidade, quando se é escravo da impudicícia? Tal é a reflexão de S. Pedro Damião582. O estado em que se acha constituído, o hábito que veste, tudo nele diz S. Jerônimo, reclama e exige a santidade583. Que escândalo não será pois na Igreja, segundo nota S. Gregório, ver aquele que é honrado, com um nome e caráter sagrados, dar o exemplo do vício!584 E que desordem ainda mais horrível, acrescenta Sto. Isodoro de Pelusa, ver um sacerdote servir-se da sua dignidade como de uma arma para ofender a Deus!585 Segundo a palavra de Ezequiel, um tal padre torna abominável a nobreza do seu estado586. Diz S.
Bernardo que os padres que não dão bom exemplo são a fábula de todo o mundo587. É já uma grande desordem que os padres vivam à maneira das pessoas do mundo, observa o autor da Obra imperfeita, mas o que será se a sua conduta for pior que a dos mundanos?588

E que exemplo pode o povo receber de vós, pergunta Sto. Ambrósio, se em vós nota certas ações que o fazem envergonhar, devendo olhar-vos como santos?589

Lê-se no profeta Oséias: Ouvi isto, ó sacerdotes... visto que se trata de culpa vossa, porque vos tornastes como um laço e uma rede estendida para caçar aves590. Para atrair as aves aos seus laços, serve-se o caçador do chamariz doutras aves, que retém presas no lugar em que preparou as armadilhas. O mesmo faz o demônio: serve-se dos escandalosos para atrair os outros aos seus laços. Desde que uma alma se deixa cair, diz Sto. Efrém, serve-se dela para seduzir outras591. É dos escandalosos que se queixa o Senhor pela boca de Jeremias, quando diz: Há no meu povo ímpios que, à semelhança do passareiro, armam emboscadas e estendem laços traiçoeiros para caçarem os homens592. Mas os que os demônios buscam com mais empenho e escolhem de preferência, para chamariz nesta caça, são os padres escandalosos, diz S. Cesário593, o qual explica como é que os demônios se servem deles: Fazem como os passareiros que, tendo tomado algumas pombas, as tornam cegas e surdas, para que as outras pombas se aproximem delas e caiam nas armadilhas.

Afirma um autor que antigamente, quando um simples clérigo ia a passar na rua, todos se levantavam, e cada um se recomendava às suas orações. Vê-se o mesmo nos nossos dias? Ai! Devemos exclamar594 Jeremias: Como se obscureceu o ouro, como se embaciou o seu brilho, como se dispersaram as pedras do santuário pelos ângulos de todas as praças? Eis como S. Gregório595 explica toda esta passagem: Está o ouro obscurecido, porque os padres desonram a sua vida com ações baixas: está empanado o vivo resplendor do ouro, porque o mais santo dos estados se tornou desprezível, por obras abjectas; dispersaram-se as pedras do santuário pelos ângulos de todas as praças, porque os que deviam passar uma vida toda interior e de oração, só se ocupam de coisas exteriores. Quase não há negócios seculares que não sejam administrados pelos padres.

Lê-se nos Cânticos: Combateram contra mim os filhos de minha mãe596. Orígines aplica estas palavras aos padres que, por seus escândalos se ar mam contra a Igreja, sua mãe. Diz S. Jerônimo que a vida criminosa dos padres produz a devastação na Igreja597. E a propósito da lamentação de Ezequias — Eis que no seio da paz a minha amargura é amaríssima598 — S. Bernardo põe na boca da Igreja estas palavras: Tenho a paz do lado dos pagãos, tenho a paz do lados dos hereges, mas em verdade não a tenho da parte dos meus filhos599. Não sou hoje perseguida pelos pagãos, não há tiranos; não sou perseguida600 pelos hereges, não há heresias novas; mas sou perseguida pelos meus próprios filhos, pelos sacerdotes, cuja vida desordenada me rouba um grande número de almas! Não, diz S. Gregório, ninguém prejudica tanto a causa de Deus como os padres que, estabelecidos para encaminharem os outros, são os primeiros a dar-lhes maus exemplos601.

Pelos seus maus exemplos, fazem os maus sacerdotes que os povos desprezem o ministério deles, isto é, os sermões, as missas, e todos os ministérios da religião. Por isso o Apóstolo lhes dirige este aviso: Não demos a ninguém ocasião de escândalo, para que não se torne desprezível o nosso ministério; mostremo-nos ao contrário verdadeiros servos de Deus602. Se a lei de Jesus Cristo é desprezada, diz Salviano, a causa disso somos nós, os padres603. S. Bernardino de Sena ajunta que muitos cristãos, à vista dos maus exemplos dos eclesiásticos, chegam a vacilar na fé, e acabam por se abandonar aos vícios, desprezando os sacramentos, o inferno e o Paraíso604.

Segundo o autor da Obra imperfeita, quando os infiéis viam os desregramentos dos sacerdotes, diziam que o Deus dos cristãos ou não existia, ou era um deus mau; porque, acrescentavam, se fosse bom, como poderia suportar tais desordens nos seus ministros?605 Na Instrução sobre a missa, mais de espaço nos havemos de referir ao caso de um herege que estava disposto a converter-se: tendo porém visto em Roma um padre a dizer missa com pouco respeito, desistiu de abjurar os seus erros, dizendo que nem o próprio papa tinha fé; de contrário, teria mandado queimar vivos tais padres,
desde que os conhecesse.

Dizia S. Jerônimo que, procurando saber pela história quais os homens que têm difundido na Igreja o veneno das heresias e pervertido os povos, não encontrava outros senão os padres606. Pedro de Blois diz por sua vez: É pela negligência dos padres que as heresias se têm multiplicado... Por causa dos nossos pecados, é que a Igreja tem sido calcada aos pés e caído no desprezo607. E, no sentir de S. Bernardo, mais mal nos fazem os padres escandalosos, que os próprios hereges; porque, afirma ele, está no nosso poder guardarmo-nos dos heréticos, — mas como será possível guardarmonos dos padres, cuja assistência a cada instante nos é necessária? Eis as suas palavras: Uma peste mortal invade hoje todo o corpo da Igreja; e o mal é tanto mais assombroso quanto se mostra geral; é tanto mais funesto quanto procede do interior. Se o inimigo fosse um herege declarado, poderia lançar-se fora; se o inimigo se apresentasse com as armas na mão, poderia a Igreja furtar-se aos seus golpes; mas como lançá-lo fora? Como escapar aos seus golpes? Todos são a um tempo amigos e adversários dela608.

Ó, que terrível castigo está reservado para os padres escandalosos! Se é ameaçado de grande desgraça todo o homem por quem vem o escândalo609, que desgraça ainda mais terrível há de estalar sobre aquele que Deus escolheu para ser ministro seu!610 De preferência a tantos outros, o encarregou Deus de lhe granjear frutos, salvando-lhe almas, e ele, por seus maus exemplos, arrebatou almas ao seu divino Mestre! Diz S. Gregório que tais sacerdotes merecem sofrer tantas mortes, quantos os maus exemplos que dão611. Falando dos padres em especial, disse o Senhor a Sta. Brígida: Serão duplamente malditos os que por sua conta se perdem a si próprios e consigo perdem os outros612. São os sacerdotes encarregados da vinha; o Senhor porém expulsa da sua vinha os maus jornaleiros e a confia a outros, que saibam produzir bons frutos613.

Ai! Que será dos padres escandalosos no dia do juízo? Hei de aparecerlhes como a ursa a que arrebataram os filhos614. Com que furor se não precipita a ursa contra o caçador que vai para lhe arrebatar e matar os filhos! É assim, diz o Senhor, que eu me lançarei contra os sacerdotes que, em vez de me salvarem as almas, as fazem perder. E, se nesse dia terrível cada um há de ter dificuldade em responder por si, pergunta Sto. Agostinho, que será dos padres que hão de dar conta de tantas almas que fizeram perder?615 O autor da Obra imperfeita acrescenta: Quando os padres vivem em pecado, todo o povo se afunda nos vícios; também, ao passo que os outros só prestarão conta dos próprios pecados de todos616. Ó, quantos seculares, quantos pobres camponeses e mulheres humildes, serão no Vale de Josaphat um motivo de confusão para os padres! Acrescenta ainda o autor da Obra imperfeita: No dia do juízo hão de ver se leigos revestidos da túnica da glória destinada aos padres; e alguns padres, por seus pecados, despojados da dignidade sacerdotal e repelidos para o meio dos infiéis e hipócritas617.

Guardemo-nos pois, ó sacerdotes, ó irmãos meus, de causar por nossos maus exemplos a perda das almas, nós a quem Deus colocou na terra para as salvar. Em ordem à consecução deste fim, evitemos com zelo não só as ações, más em si mesmas, mas até as que tenham aparência de mal, conforme a palavra do Apóstolo: Ab omni specie mala abstinete vos (1. Thess. 5, 22). Por esta razão ordenou o concílio de Agda: Ut ancillae a mansione, in qua clericus manet, removeantur (Conc. Agth. c. 11). Ter na própria casa criadas novas, — ainda mesmo que, por impossível, não fossem ocasião de pecado, — seria pelo menos uma aparência de mal, que podia ser motivo de escândalo para os outros.

Assim o Apóstolo nos adverte que devemos abster-nos até de certas coisas permitidas, com receio de escandalizar os fracos618. Devemos absternos igualmente, com muito cuidado, de repetir certas máximas do mundo, tais como estas: É preciso que não nos deixemos calcar aos pés; é necessário gozar da vida; felizes os ricos; Deus é cheio de misericórdia e compadece-se das nossas fraquezas (falando-se de pecadores, que persistem nas suas desordens). Que escândalo não seria também aplaudir quem pratica o mal, por exemplo: um homem que se vinga, ou que mantém relações perigo sas! Louvar os que fazem o mal, diz S. Crisóstomo, é muito pior que praticálo! 619 Finalmente, quanto ao passado, quem teve a desgraça de dar algum escândalo, ou qualquer ocasião de pecado, deve saber que está obrigado a repará-lo publicamente por seus bons exemplos.


Fonte: Retirado do Livro "A Selva", por Santo Afonso Maria de Ligório

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