4 de agosto de 2011

Livro "O Derradeiro Combate do Demônio"


Capítulo 8
A Mensagem de Fátima contra
a linha do partido 


Qual foi o efeito global para a Igreja das mudanças inesperadas, e assaz dramáticas que começaram no século XX? Como escritores católicos têm observado, aquilo que os Católicos testemunharam especialmente ao longo dos últimos 40 anos representa uma espécie de “estalinização da Igreja Católica Romana” - o que tem uma semelhança arrepiante com aquilo que, nessa altura, foi chamado “a Adaptação” da Ortodoxia Russa às exigências do Regime Estalinista. 

A subversão da Igreja Ortodoxa por Stálin é, sem dúvida, uma das evoluções que a Santíssima Virgem previu, em Fátima, para a Rússia. Foi precisamente por isso que a Senhora veio pedir a Consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração: para que esta nação abraçasse a única e verdadeira religião e a única e verdadeira Igreja, e não a Igreja Ortodoxa cismática - fundada em rebelião humana contra Roma, afastada do Corpo Místico de Cristo há mais de 500 anos - sendo, por esse facto, constitucionalmente incapaz de evitar a sua Adaptação total ao Estalinismo. 

A Adaptação Ortodoxa começou oficialmente quando o Metropolita Sergio, da Igreja Ortodoxa Russa, publicou um “Apelo” no Izvestia de 19 de Agosto de 1927. O Apelo de Sergius, como veio a ser conhecido, esboçou uma nova base para a actividade da Igreja Ortodoxa Russa - que o leigo russo Boris Talantov descreveu como «uma Adaptação à realidade ateia da U.R.S.S.». Por outras palavras e como se depreende da argumentação, a Igreja tinha que encontrar uma maneira de viver com a “realidade ateia” da Rússia estalinista. Logo, Sergius propusera o que ficou conhecido, abreviadamente, como a Adaptação. 

A Adaptação constou, antes de mais, de uma separação errónea entre as chamadas necessidades espirituais do Homem - necessidades puramente religiosas -, e as suas necessidades sócio-políticas. Isto é, uma separação entre a Igreja e o Estado: a Igreja servia para satisfazer as necessidades puramente religiosas dos cidadãos da União Soviética, mas sem tocar na estrutura sócio-política que tinha sido edificada pelo Partido Comunista. 

 A Adaptação exigiu uma nova administração da Igreja na Rússia, segundo linhas de orientação esboçadas logo depois de ter sido publicado o apelo de Sergius. Na prática, isso traduzia-se num acordo de não criticar a ideologia oficial da União Soviética sob o regime de Stálin, o que se iria reflectir em todas as actividades da Igreja: toda e qualquer oposição da Igreja Ortodoxa Russa ao regime soviético seria, daí em diante, considerada um desvio da sua actividade puramente religiosa, e uma forma de contra-revolução que nunca mais seria permitida nem tolerada. 

Efectivamente, devido ao seu silêncio, a Igreja Ortodoxa tornou-se um “braço longo” do Estado Soviético. Com efeito, Sergius continuaria a defender esta traição e, inclusivamente, a apelar à condenação dos seus próprios colegas ortodoxos, sentenciados a campos de concentração por alegadas actividades contra-revolucionárias. Talantov, que condenara totalmente a Adaptação, descreveu-a deste modo: «Na realidade, toda a actividade religiosa foi reduzida a ritos externos. A pregação que faziam, nas igrejas, aqueles Clerigos que seguiam estritamente a Adaptação era totalmente afastada da vida real e, portanto, não tinha influência alguma nos ouvintes. Como resultado, tanto a vida familiar, social e intelectual dos crentes como a educação da geração mais nova permaneceram fora da influência da Igreja. Ora, não se pode louvar a Cristo e ao mesmo tempo, na vida familiar e social, mentir, fazer o que é injusto, usar de violência e sonhar com um paraíso na terra»1

E era isto o que a Adaptação envolvia: a Igreja calar-se-ia sobre os males do regime estalinista, tornar-se-ia uma comunidade puramente “espiritual”, “em sentido abstracto”, já não exprimiria oposição ao regime, já não condenaria os erros e mentiras do Comunismo, tornando-se deste modo uma Igreja do Silêncio - como era frequentemente chamado o Cristanismo para lá da Cortina de Ferro. 

O Apelo de Sergius provocou um cisma na Igreja Ortodoxa Russa. Os verdadeiros crentes que rejeitaram a Adaptação, que denunciaram o Apelo e que permaneceram ligados ao Metropolita Joseph - e não a Sergius - foram presos e enviados para campos de concentração. O próprio Boris Talantov teria eventualmente morrido na prisão como prisioneiro político do Regime Estalinista, e, entretanto, a Igreja do Silêncio era transformada - efectivamente - num órgão do KGB. Stálin arrasou a Igreja Ortodoxa Russa: todos os verdadeiros crentes ortodoxos foram mandados para campos de concentração, ou executados e substituídos por operativos do KGB. 

Pouco antes de morrer, em Agosto de 1967, Talantov escreveu o seguinte sobre a Adaptação: 
A Adaptação ao ateísmo implantada pelo Metropolita Sergius terminou com a (foi completada pela) traição que a Igreja Ortodoxa Russa sofreu, por parte do Metropolita Nikodim e de outros representantes oficiais do Patriarca de Moscovo sediado no estrangeiro. Esta traição, irrefutavelmente provada pelos documentos citados, tem que ser tornada conhecida de todos os crentes, na Rússia e no estrangeiro - porque tal actividade do Patriarcado, assente na cooperação com o KGB, representa um grande perigo para todos os crentes. Na verdade, os chefes ateus do povo russo e os príncipes da Igreja uniram-se contra o Senhor e contra a Sua Igreja2.


Talantov refere-se aqui ao mesmo Metropolita Nikodim que induziu o Vaticano a entrar no Acordo Vaticano-Moscovo - mediante o qual (como mostrámos no capítulo 6) a Igreja Católica foi forçada a não falar sobre o Comunismo no Concílio Vaticano II. Logo, o mesmo prelado ortodoxo que atraiçoou a Igreja Ortodoxa veio a ser o instrumento de um acordo que atraiçoou também a Igreja Católica. Durante o Vaticano II, certos eclesiásticos católicos em cooperação com Nikodim concordaram em que a Igreja Católica se tornaria também numa Igreja do Silêncio

E assim, a partir do Concílio, a Igreja Católica tem-se tornado incontestavelmente silenciosa em quase toda a parte; não só quanto aos erros do Comunismo - que a Igreja deixou de condenar quase por completo, mesmo em relação à China vermelha que cruelmente persegue a Igreja -, mas também quanto aos erros do Mundo em geral. Relembramos que, na sua alocução inaugural do Concílio, o Papa João XXIII admitiu abertamente que o Concílio (e depois dele a maior parte da Igreja) já não condenaria os erros; antes se abriria ao Mundo, numa apresentação “positiva” do Seu ensino aos “homens de boa vontade”. O que se lhe seguiu - e que o próprio Papa Paulo VI teve de admitir - não foi a conversão esperançosa dos “homens de boa vontade”, mas sim aquilo a que o próprio Paulo VI chamou «uma verdadeira invasão da Igreja pelo pensamento mundano». Por outras palavras - tanto quanto isto seja possível na Igreja Católica (que nunca pode falhar completamente na Sua missão) -, tratou-se de um tipo de Adaptação sergiana do Catolicismo Romano

Ora, de acordo com esta Adaptação da Igreja Católica, por volta do ano 2000 a Mensagem de Fátima estaria firmemente subjugada às exigências da nova orientação: já tinha sido determinado por certos membros do aparelho de estado do Vaticano que a Rússia não seria mencionada em cerimónia alguma de Consagração que o Papa pudesse realizar, em resposta aos pedidos da Virgem. No número de Novembro de 2000 da revista Inside the Vatican, um Cardeal proeminente, identificado apenas como «um dos conselheiros mais próximos do Santo Padre», é citado deste modo: «Roma receia que os Ortodoxos Russos pudessem considerar uma ‘ofensa’ o facto de Roma fazer uma menção específica da Rússia numa tal oração - como se a Rússia precisasse especialmente de ajuda, quando o Mundo inteiro, incluindo o Ocidente pós-Cristão, enfrenta problemas profundos (…)». O mesmo Cardeal-conselheiro acrescentou: «Vamos ter cuidado para não nos tornarmos demasiado estreitos de espírito». 

Em suma: “Roma” - isto é, alguns poucos membros do aparelho de estado do Vaticano que aconselham o Papa - decidiu não honrar o pedido específico de Nossa Senhora de Fátima, com receio de ofender os Ortodoxos Russos; “Roma” não deseja dar a impressão de que a Rússia deverá converter-se à Fé Católica, por meio da sua Consagração ao Imaculado Coração de Maria, porque isto seria assaz contrário ao novo “diálogo ecuménico” lançado pelo Concílio Vaticano II. A Consagração (e conversão) da Rússia pedida pela Mãe de Deus também seria contra o acordo diplomático do Vaticano (na Declaração de Balamand de 1993), segundo o qual o regresso dos Ortodoxos a Roma é uma “eclesiologia antiquada” - afirmação que, como demonstrámos, contradiz rotundamente o dogma católico, infalivelmente definido, de que tanto hereges como cismáticos não podem salvar-se, se estiverem fora da Igreja Católica. Então, em Janeiro de 1998 e de harmonia com este notório afastamento do ensino católico, o próprio Administrador Apostólico do Vaticano para a Rússia, o Arcebispo Tadeusz Kondrusiewicz, afirmou publicamente: «O Concílio Vaticano II declarou que a Igreja Ortodoxa é a nossa Igreja gémea e tem os mesmos meios para a salvação. Portanto, não há motivo algum para uma política de proselitismo»3

Devido a este abandono de facto do ensino continuado da Igreja - de que os hereges, cismáticos, judeus e pagãos têm de unir-se ao rebanho católico se quiserem salvar-se -, uma Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria para obter a sua conversão estaria, evidentemente, fora de questão, pelo menos aos olhos daqueles que promovem a nova orientação da Igreja. 

E foi assim que no dia 13 de Maio de 1982, e outra vez a 25 de Março de 1984, o Papa consagrou o Mundo ao Imaculado Coração de Maria, mas sem qualquer menção à Rússia; em caso algum participaram os Bispos de todo o Mundo - não tendo, portanto, sido cumprido nenhum dos dois requisitos de que a Irmã Lúcia se fez voz ao longo de toda a sua vida. Reconhecendo-o claramente, o próprio Papa fez alguns comentários - intrigantes - durante e depois da cerimónia de 1984: durante a cerimónia, diante de 250.000 pessoas na Praça de São Pedro, o Santo Padre acrescentou espontaneamente o seguinte ao texto já preparado: «Iluminai especialmente aqueles povos cuja consagração e confiada entrega Vós esperais de nós»4; e horas depois da cerimónia, segundo noticiou o Avvenire, jornal dos Bispos italianos, o Santo Padre rezou na Basílica de São Pedro, diante de 10.000 testemunhas, pedindo a Nossa Senhora que abençoasse «aqueles povos para quem Vós Mesma estais à espera do nosso acto de consagração  de confiada entrega»5. A Rússia não foi consagrada ao Imaculado Coração de Maria, e o Papa sabe-o: persuadido, evidentemente, pelos seus conselheiros, o Papa dissera ao Sr. Bispo Cordes, dirigente do Conselho Pontifício para os Leigos, que tinha omitido qualquer menção à Rússia porque «seria interpretada como uma provocação pelos dirigentes soviéticos»6


Fonte: Retirado do livro "O Derradeiro Combate do Demônio" | Capítulo 8 | P. 85


Um comentário:

  1. Salve Maria,

    Minha irmão Deus esteja contigo pois que bom que voltou a escrever não temas o combate pois sabes que não são com inimigos de carne que estamos combatendo e sim com os demônios que estão no ar, eles são nosso verdadeiro inimigo.
    Pois que mesmo que todo nosso esforço na palavra de Deus, nós conseguimos salvar apenas uma alma já terá valido a pena nossa existência.
    Continue na sua luta junto com o Sagrado Coração de Jesus e Maria, pois vamos entregar almas para nosso senhor.
    Fique com Deus minha cara irmã em Cristo Jesus

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Ave Cor Mariae!