5 de dezembro de 2011

Heterodoxia de um Clero revolucionário



 Não se faz revolução só pela letra. Revolução se faz substancialmente pelo espírito. Uma alma geralmente mutável, instável e com necessidade de constante aggiornamento é o âmago dos revolucionários. Revolução é a necessidade do eterno porvir.
            A Igreja Católica Apostólica Romana é a depositária exclusiva da Verdade. Como guardiã de todas as coisas que são verdadeiras no mundo é também, por extensão, da estabilidade. Verdade nutre e é nutrida pela estabilidade, isto é, para que algo seja verdadeiro é preciso que seja estável. Não existe Verdade na instabilidade, nas coisas mutáveis, no aggiornamento, na revolução, etc. Uma revolução é necessidade constante de reforma giorno a giorno. Ela deve ser reformada e contra-reformada todo momento para que sobreviva, portanto, revolução significa instabilidade que necessita como combustíveis day by day a instabilidade, a contradição e a dialética.
            Revolução é antinatural, antirracional e, evidentemente, antítese da verdade. A popular mentira! Por outro lado, a Igreja nos ensina que Verdade é algo substancialmente imutável e por isso mesmo antirrevolucionária por excelência. Não se pode, sob pena de contradição profunda, ser católico e revolucionário ao mesmo tempo, pois a Verdade nega a revolução assim como a revolução nega a Verdade. Elas são inimigas inconciliáveis. A Verdade é algo substancialmente imutável e não admite instabilidade, que é motor primordial da revolução. Nem mesmo estágios graduais de revolução que são chamadas de “reformas”.  Reforma nada mais é do que revolução graduada, pois possui mais ou menos instabilidade a medida do freguês. O menor enxerto de heterodoxia naquilo que não admite instabilidade (Verdade) é tão nocivo quanto uma revolução completa. Verdade e revolução não são conciliáveis, nem por decreto e nem por Concílio...
            O modernismo é uma heresia ferozmente revolucionária, porém se apresenta como uma simples reforma “cheia de boas intenções”. E não precisa exercitar muito o raciocínio para sabermos o lugar que Deus destina para aqueles que são “cheios de boas intenções”... Os modernistas querem reformar aquilo que substancialmente é irreformável, aquilo que é radicalmente estável e verdadeiro. Modernistas são lobos famintos que se apresentam como o cordeiro mais puro e alvo. Ao longo da história foram muitos que tentaram – sem sucesso – destruir a Igreja por fora. A grande novidade – maligna novidade – é o movimento modernista, pois ele tenta destruir a Igreja por dentro, como um câncer que destrói um organismo via células rebeladas. Este é o maior case revolucionário de todos os tempos!
            A letra do “reformador revolucionário” Concílio Vaticano II se expressou de maneira “modesta” se assim podemos entender. Uma modéstia “cheia de boas intenções” que abriu portas para comportamentos para lá de heterodoxos, reformadores e revolucionários. O Vaticano II trouxe a grande “conquista” que foi a tentativa de instabilidade naquilo que é estável pela própria natureza, ou seja, a Santa Igreja. Nada mais dialético! A letra deste concílio é a pequena centelha revolucionária que desestabiliza giorno a giorno a Verdade. Não cabe aqui uma análise mais profunda do Vaticano II, porém ao leitor basta ter em mente que ele se expressou de uma maneira mais "heterodoxamente" branda na letra do que no espírito. A letra foi o Cavalo de Tróia desestabilizador “cheio de boas intenções” que levou o espírito encubado da plena revolução dentro do seio da Santa Igreja.
            Espírito encubado que desabrocha aggiornando não os dogmas ou o Sagrado Magistério - que são intocáveis graças a assistência do Espírito Santo prometida por Nosso Senhor que impede que qualquer heterodoxia seja proclamada de maneira ex-cathedra - mas provoca sangrenta revolução pastoral nos costumes da Igreja.  Da “pequena” porta aberta à instabilidade pela letra do Vaticano II, foi por onde foram encubadas e desgraçadamente desabrochadas as mais diversas heterodoxias pastorais. Já que não é possível desestabilizar o Magistério, partiu-se para a desestabilização das conseqüências dele, isto é, os costumes da Igreja.
            Gostaria de analisar um fruto muito importante dessa heterodoxia, isto é, os clérigos. A revolução no comportamento deles antes e após o Vaticano II é mais do que evidente. A começar pela formação do seminarista. A porta da casa formadora dos sacerdotes foi arregaçada para o mundo e por lá entrou a decadência comportamental (para dizer o mínimo) que leva à decadência giorno a giorno do clero. Os seminários foram reformados não pelos seminaristas, mas por bispos, cardeais e até por papas baseados na “pequena” abertura que a letra do Vaticano II proporcionou. A letra contidamente reformista possibilitou uma veemente revolução nos costumes.
            Chegamos a um ponto muito interessante, isto é, um clérigo de hoje tem praticamente vergonha de ser ministro de Nosso Senhor. Vergonha que começa com o próprio paramento. O que diria o leitor, por exemplo, de um militar que tivesse vergonha de usar sua farda? Que comprometimento esse soldado teria com sua corporação? Racionalmente, nenhum. Um típico padre deste nosso século renega a batina e tem profunda vergonha do significado dela. A batina é preta, pois significa o luto que o sacerdote tem pelas coisas do mundo. A partir do momento que o Vaticano II tentou conciliar as coisas do mundo com as coisas de Deus, significou que o luto da batina perdeu o sentido, portanto, usá-la não tem mais significado. A Igreja passou de Corpo Místico de Deus a “Povo de Deus”. Note, caro leitor, a tremenda revolução que “inocentes letras” trouxeram aos costumes da Igreja. Se é intenção dos modernistas abraçarem o mundo e não combatê-lo, a batina - que é símbolo do luto e da diferenciação do sacerdote perante o mundo – perde o sentido e passa ser motivo de vergonha. Eu não posso ser “mais um na multidão” me vestindo de maneira diferenciada. Ao mesmo tempo, não posso ser ministro de Nosso Senhor e combatente do exército Dele, vestindo-me sem a Sua farda. Em suma, simbolicamente, a renúncia da batina é renúncia a Jesus Cristo que é fundador e pedra imutável da Santa Igreja.
            Os sacerdotes modernos querem ser leigos no sentido de se integrarem a eles. Quando subverte-se o sacrifício, ou seja, não é mais pelas mãos do sacerdote que é oferecido o sacrifício a Deus, mas sim pela assembléia do “povo de Deus” reunida, o sacerdócio perde na prática (no costume, no espírito) sua principal razão de ser. O padre é, no máximo, presidente dessa assembléia e não oferecedor exclusivo do sacrifício. Mais protestante impossível...
            Quantos padres hoje acreditam na transubstanciação, por exemplo? Quantos padres oferecem o sacrifício não como algo literal a Deus, mas como algo memorial e simbólico apenas? Mais protestante impossível... Quando se subverte sorrateiramente, pequenamente, a noção de pureza imutável da Igreja em pequenas heterodoxias pastorais introduzidas pelo Vaticano II, dá-se a possibilidade desses micróbios da heresia se desenvolverem dia a dia para a desgraça do todo, isto é, da Santa Igreja.
            Padres são ministros ordenados de Nosso Senhor, ou seja, eles não são leigos e não podem se comportar como tais, sob pena da desmoralização de suas funções. Cabe, portanto, um comportamento diferenciado que denota profundo respeito. Essa diferença entre leigo e clérigo não é uma simples norma administrativa da Igreja, mas respeito aos princípios hierárquicos explicitamente estabelecidos por Nosso Senhor. Quem não aceita a Igreja profundamente hierárquica, não aceita Jesus Cristo. E quantos padres, por um pseudo amor aos homens renegam isso? Pior, padre hoje, bispo amanhã e papa depois de amanhã... Estabelecer uma relação de respeito hierárquico entre sacerdotes e leigos é o maior ato de amor que um pastor pode dar ao seu rebanho. Padre não é ovelha, mas pastor. Um verdadeiro pastor guia as ovelhas e não é guiado por elas. Padres devem amar e guiar os leigos e para que esta tarefa seja exercida é preciso que se estabeleça um distanciamento minimamente cerimonial entre ambos.
            Um padre deve guiar e um leigo deve tratá-lo não como um igual, mas como pai espiritual. E como pai os padres tem autoridade sobre os leigos. Clérigos não são nossos irmãos, mas pais. Uma diferença e tanto! Quanto maior o contato reverencial (o que de maneira alguma é sinônimo de distanciamento) do leigo para com o sacerdote, melhor. Pastor pastoreia com o cajado as ovelhas, jamais o contrário. O que diríamos de um general que trata um soldado como um igual? Que autoridade ele teria? Um general que se comportasse assim levaria inevitavelmente seu exército à derrota e, muito pior, à desmoralização! Hierarquia é a elemento base em qualquer relação humana.
            O deplorável comportamento pastoral de muitos clérigos leva até mesmo à corrupção doutrinal não do Magistério - que é incorruptível - mas da cabeça dos leigos. Esse é o substancial veneno que foi introduzido dentro da Igreja através da heresia do modernismo que foi consagrado no Concílio Vaticano II. Essa centelha desestabilizadora da letra do concílio deságua dia a dia aggiornada por mais de quatro décadas à degradação da Igreja. Pois do que adianta um Magistério incorruptível se a aplicação deste é pastoralmente deturpada? As ovelhas não são teólogas filósofas, mas simplesmente ovelhas que não precisam entender de teologia, mas serem guiadas por padres que entendem. Temos, portanto, o maior fruto do Concílio Vaticano II, isto é, a corrupção das pastoral, do clero e em longo prazo de toda a Igreja. Dia a dia aggiornada pela centelha desestabilizadora revolucionária da heresia modernista. O mundo sorri enquanto Deus chora, pois são como água e óleo.

Texto: Rodrigo Maximo.

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Ave Cor Mariae!