Coletânea de excertos de cartas escritas pela Irmã Lúcia de 1969 a 1971. (Publicados originalmente em Uma vida a serviço de Fátima, com o Título “Pequeno Tratado, da vidente, sobre a natureza e recitação do Terço”, capítulo VI, Escola Tipográfica das Missões de Cucujães. Imprimatur a Dom João Venâncio, Bispo de Leiria, 13 de maio de 1971).
J.M.
Coimbra, 12-4-1970
Querida Maria Teresa:
Pax Christi
(...) Nossa Senhora pediu e recomendou que se reze o Terço todos os dias, repetindo o mesmo em todas as Aparições, como que prevenindo-nos para que, em estes tempos de desorientação diabólica, nos não deixemos enganar por falsas doutrinas, diminuindo na elevação da nossa alma para Deus, por meio da oração.
(...) Além do que tenho dito, será bom que à oração do Terço se dê um sentido mais real que aquele que se lhe tem dado, até aqui, de simples oração Mariana. Todas as orações que rezamos no Terço são orações que fazem parte da Sagrada Liturgia; e, mais que uma oração dirigida a Maria, é dirigida a Deus: - O Pai-Nosso foi-nos ensinado por Jesus Cristo, dizendo: “Rezai, pois, assim: Pai-Nosso, que estais nos Céus...”. – “Glória ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo...” é o hino que cantaram os Anjos enviados por Deus para anunciar o nascimento do Seu Verbo, Deus feito Homem. – A Ave-Maria, bem compreendida, não é menos uma oração dirigida a Deus: “Ave Maria gratia plena, Dominus tecum”: eu te saúdo, Maria, porque Contigo está o Senhor! Estas palavras são, com certeza, ditadas pelo Pai ao Anjo, quando O enviou a terra, para que com elas saudasse a Maria.
Sim! O Anjo veio dizer, a Maria, que Ela era cheia de Graça, não por Ela, mas porque com Ela estava o Senhor! – “E Bendita sois Vós entre as mulheres, e Bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus”: estas palavras, com que Isabel saudou a Maria, foram-lhe ditadas pelo Espírito Santo, diz-nos o Evangelista: “Ao ouvir a saudação de Maria,... ficou cheia do Espírito Santo. Erguendo a voz, exclamou: Bendita és Tu entre as mulheres, e Bendito é o fruto do Teu ventre”.
Sim! Porque esse fruto é Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem!
Assim, esta saudação é um louvor a Deus: És Bendita entre as mulheres, porque é Bendito o fruto do Teu ventre; e porque Tu és a Mãe de Deus feito Homem, - em Ti adoramos a Deus como em primeiro Sacrário, no qual o pai encerrou o Seu Verbo; como primeiro Altar, o Teu Regaço; primeira Custódia, os Teus braços, diante dos quais se ajoelharam os Anjos, os pastores e os reis, para adorar o filho de Deus, feito Homem! E porque Tu, ó Maria, és o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade, onde mora o Pai, o Filho e o Espírito Santo, “o Espírito virá sobre Ti e a força do Altíssimo estenderá sobre Ti a Sua sombra. Por isso mesmo é que o Santo, que vai nascer, há de chamar-se Filho de Deus” (Lc 1,35). E já és um Sacrário, uma Custódia, um Templo vivo, morada permanente da Santíssima Trindade, Mãe de Deus e Mãe nossa, - “roga por nós, pobres pecadores, agora e na hora da nossa morte”.
(...) Certo é que São Paulo diz que há um só Medianeiro junto do Pai. Sim! Como Deus, há um só, que é Jesus Cristo. Mas o mesmo Apóstolo pede que roguem por ele e recomenda que roguemos uns pelos outros: Poderia, então, o Apóstolo não crer que a oração de Maria não fosse tão agradável a Deus, como a nossa?! É a desorientação diabólica que invade o mundo e engana as almas! É preciso fazer-lhe frente. (...)
É preciso, pois, orar, e orar sempre. Isto é, que todas as nossas atividades e trabalhos sejam acompanhados de um grande espírito de oração, porque é na oração que a alma se encontra com Deus; e é nesse encontro que se recebe graça e força, ainda mesmo quando ela é acompanhada de distrações. Ela leva sempre à alma um aumento de Fé, ainda que não seja mais que a recordação momentânea dos mistérios da nossa Redenção, lembrando o Nascimento, Morte e Ressurreição do nosso Salvador; e Deus saberá descontar e perdoar o que toca à humana fraqueza, ignorância e pouca idade.
Quanto à recitação das Ave-Marias, não é como querem fazer crer que seja uma coisa antiquada. Todas as coisas que existem e foram criadas por Deus, se mantêm e conservam por meio da repetição, continuada sempre, dos mesmos atos. E ainda a ninguém ocorreu chamar antiquado o sol, lua, estrelas, aves e plantas, etc., porque giram, vivem e brotam sempre do mesmo modo! E são bem mais antigos que a reza do Terço! Para Deus, nada é antigo. – São João diz que os Bem-Aventurados, no Céu, cantam um cântico novo, repetindo sempre: “Santo, Santo é o Senhor, Deus dos Exércitos!”. É novo, porque, na luz de Deus, tudo aparece com novo brilho!
Um grande abraço da sempre em união de orações.
Irmã Lúcia
i.c.d.
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Ave Cor Mariae!