31 de agosto de 2011

O ESPÍRITO CONCILIAR ESTENDE A MÃO AO COMUNISMO




Para começar a esclarecer este ponto, vejamos o testemunho de quem viveu esse drama: monsenhor Lefebvre, falando aos jornalistas no aeroporto de Paris, dia 9 de dezembro de 1983:

“(...) Em todo lugar os fiéis nos dizem — mudaram nossa religião, não é mais a religião católica. Estão escandalizados em ver bispos com tendências marxistas. Mas isto não deveria surpreender, porque não se condenou o comunismo durante o concílio e agora não há como condená-lo. É algo absolutamente inaudito na história da Igreja.

Reuniu-se um concílio pastoral, dito pastoral, isto é, para cuidar das almas dos fiéis, da salvação destes e do mundo. Pois bem, ao maior mal, ao mais ignóbil, ao mais dissolvente da sociedade, da pessoa humana, da liberdade, que é o comunismo, foi dito: não o condenaremos durante o Concílio.

“Pessoalmente sei de algo. Fui eu quem, com dom Sigaud, reuniu as quatrocentas e cinqüenta assinaturas de bispos para a condenação do [84] comunismo. Eu mesmo as levei à secretaria do concílio, foram postas numa caixa! E depois tiveram a pretensão de dizer que no concílio não houve nenhum pedido de condenação do comunismo! Havia sido eu mesmo a levar pessoalmente esse documento do qual conservei a lista dos bispos que o subscreveram. É realmente inverossímil. Imediatamente protestei e me foi respondido que não era verdade que haviam sido apresentadas 450 assinaturas. Depois disseram que estas chegaram tarde e que não se sabia onde estavam. Efetivamente haviam decidido que o comunismo não seria condenado, para que pudessem comparecer ao concílio os delegados de Moscou.”

Esse assunto já começou a ser tratado sob o título “Um acordo Montini-Stalin” (p. 51), onde se viu que essa tratativa sinistra, da qual ainda não se conhecem as circunstâncias e da qual jamais se poderá saber tudo, neste mundo, era o início de um processo de compromissos que teria no concílio uma aplicação prática, cujo êxito nos dará idéia do quanto valiam.

Tratava-se de obter a presença no concílio de observadores do patriarcado ortodoxo de Moscou, aliás sabidamente comprometido com o regime soviético. Note-se que os ortodoxos turcos e gregos já haviam decidido que não compareceriam ao concílio reunido em Roma, em 1962, desde que, antes do acordo Roma-Moscou, constava que os russos não iriam. Curiosamente essa solidariedade acabou por deixá-los fora, dada a mudança fulmínea destes, fazendo com que o arcebispo de Atenas os acusasse de haver rompido a “Unidade ortodoxa”. Isto tudo consta do livro Humanismo soviético, do padre Ulisse Floridi, Ed. Agir (p. 225). O mesmo autor escreveu o importante livro Moscou e o Vaticano, editado em muitas línguas. É dito aqui, para mostrar como o interesse ecumênico dos organizadores do concílio era, senão um pretexto, pelo menos muito mais propenso a uma aproximação com os teleguiados de Moscou do que com os patriarcados de Constantinopla e Atenas. Mas há um outro aspecto citado nesse livro que deve ser notado: “No Congresso pan-ortodoxo de Rodes, em 1961, o pedido da delegação russa causou grande impressão: que fosse cancelado da ordem do dia o assunto relativo às missões e ao ateísmo e fosse substituído por aquele referente à luta pela paz e contra o racismo. Falando da unidade das igrejas, o arcebispo Nikodim declarou que a Igreja russa era favorável, mas que ela não podia tolerar que certos ambientes ocidentais, e nomeou o Vaticano, aproveitassem desta aspiração para dela fazer a base ideológica da luta contra os povos empenhados no caminho da democracia (isto é, dos países comunistas!).” (cf. La Croix, 21/10/61)

Ficamos sabendo com isto que o patriarcado de Moscou segue a política de silenciar sobre o ateísmo e indignar-se contra um anticomunismo que ainda via em Roma. Revela-se assim uma “igreja popular-democrática” que tem por porta-voz o jovem Nikodim. Tudo isto po-[85]-de ter assustado os popes orientais, não o papa da Roma conciliar.

Como se viu antes, João XXIII ordenou ao cardeal Tisserant que iniciasse tratativas com Nikodim, que para os serviços secretos ocidentais era um agente da KGB. O mesmo que iria morrer com a idade de 53 anos, em 1978, nos braços de João Paulo I, no Vaticano. Depois que o próprio papa deu explícitas garantias ao governo de Moscou de que não haveria debate sobre o comunismo e menos ainda condenações, essas tratativas foram tão aceleradas que em questão de dias monsenhor Willebrands, depois cardeal e substituto do cardeal Bea, partiu para Moscou disfarçado de executivo sueco, a fim de confirmar as garantias de não anticomunismo do concílio, obtendo assim a partida para Roma dos observadores ortodoxos russos.


Esses fatos e tantos outros detalhes estão registrados nos livros Papa Giovanni, il Papa della Tradizione, de Ernesto Balducci, e Pope John and His Revolution, de E.Y. Hales, e em artigos das revistas Itineraires de 1962, 63 e 84, Approaches de 83 e 84, e Si si no no dos mesmos anos. Como observa Jean Madiran em Itineraires, se sobre os detalhes dessa operação, que deve ser considerada a “vergonha da Santa Sé no século XX”, pode haver algumas dúvidas, sobre a sua atuação que perdura no presente não há nenhuma: o Vaticano deixou desde 1962 de fazer qualquer referência ao comunismo e seus males. No máximo voltou-se a falar das deficiências do marxismo, quando até os socialistas o fazem.

O jornalista católico inglês Gregory Macdonald, num artigo em Approaches, n.º 79, lembra que o Concílio Vaticano II ficou condicionado por essas misteriosas tratativas e diz: “Para aquilatar o significado disso tudo, seria necessário indagar a que ponto estaríamos hoje se, antes do Concílio de Nicéia, o papa tivesse concordado com o imperador, que não seria discutida a heresia de Ário. A promessa a um poder civil que venha a coagir os trabalhos de um concílio iminente, não constitui acaso a rendição da independência espiritual da Igreja? Disto vem outra pergunta: a que ponto as decisões e os documentos de tal concílio, mesmo se devidamente promulgados pelo papa, vinculam os fiéis?”

Na mensagem de Fátima Nossa Senhora diz: “Virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados. O santo padre terá muito que sofrer. Várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.” Ora, todos estes fatos mostram que os erros da Rússia condicionaram o concílio e, através deste, tiraram a liberdade da Igreja e desarmaram seus militantes. Será, portanto, sobre o espírito desse concílio que deverá triunfar Maria Virgem. [86]

Fonte: Texto retirado do livro "Entre Fátima e o Abismo - Considerações e Fatos Sobre o Segredo que Desafia o Pontificado e Assombra a Cristandade" - Araí Daniele, Página 84.
Foto: Retirada do site metaforas

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Ave Cor Mariae!