‘‘O motu próprio constitui só o começo deste novo movimento litúrgico. Bento XVI, de fato, sabe bem que a longo prazo, não poderemos ficar numa coexistência entre a forma ordinária e a extraordinária do rito romano, mas a Igreja terá novamente necessidade no futuro dum rito comum’’
+Cardeal Kurt Koch 17-05-2011
Nosso Senhor conduz as almas para o céu como o pastor conduz as ovelhas a um campo de boas ervas. E neste conduzir as ovelhas, é necessário que o pastor fale e que as ovelhas ouçam a sua voz. Nem uma nem outra pode falhar. É na sua Igreja e através Dela que Jesus Cristo fala e elas O seguem. Elas nunca seguiram outro pastor porque conhecem a sua voz, mas do desconhecido, fogem. Nos dois artigos precedentes assinalamos dois pontos centrais dessa nova teologia chamada ‘Mistério Pascal’:
- o novo conceito de pecado (art. 1)
- o novo sentido de memorial (art. 2)
Não queremos ser repetitivos, mas o leitor deve avaliar bem o peso das palavras quando dizemos: esta teologia não pertence ao depósito da Revelação. Isto significa nem mais nem menos que não é Nosso Senhor que fala para as ovelhas, mas outro. Vamos fazer uma pequena trajetória através do missal do “rito ordinário” e do breviário que lhe é correlativo, e ao mesmo tempo iremos colocando ao lado as orações com que sempre a esposa de Nosso Senhor fez rezar seus filhos. Depois desta breve e incompleta relação, iremos dirigir uma pergunta à ovelha.
Mas, antes de começar, gostaríamos de nos antecipar sobre uma dúvida ou perplexidade que poderão ter aqueles que ainda não entraram bem neste sistema de pensamento heterodoxo que é o mistério pascal, sobretudo ao compararem as orações: é verdade que nas orações do novo missal não achamos heresias ou erros evidentes que o possam desacreditar de imediato, mas o mecanismo do mistério pascal, assim como o do modernismo, não é ser herético a priori, senão conduzir a uma certa direção (a da heresia). Assim como ninguém morre de AIDS, senão que o enfermo tem diminuídas as defesas corporais, assim o mistério pascal amolece o católico, de tal sorte que depois já não conseguirá fazer frente aos menores adversários.
Feita esta pequena introdução, vamos à comparação:
Da liturgia dos defuntos ao ordinário da missa, das orações às leituras bíblicas, tudo o que, até indiretamente, podia referir-se à pena devida pelo pecado, foi diminuído, ou até suprimido, pela reforma litúrgica. Neste sentido, a dimensão propiciatória desapareceu do novo missal. Este fato não é mais que a conclusão lógica do que estabelecemos anteriormente: se se considera a missa em primeiro lugar como memorial, mais que como sacrifício, está claro que a finalidade propiciatória do sacrifício, tão energicamente recordada pelo Concílio de Trento, não podia senão ser deixada de lado em benefício do louvor de ação de graças. A leitura da Institutio Generalis Missalis Romani não deixa nenhuma dúvida quanto a este tema: a dimensão propiciatória jamais se menciona, ao passo que a finalidade eucarística aparece muitas vezes (nº 2, 7, 48, 54, 55, 62, 259, 335 e 339). Ademais, forjou-se um novo vocabulário em torno dessa inversão de valores: falar-se-á de “celebração eucarística” (nº 4, 5, 6, 24, 43, 48, 56, 59, 60, 66, 101, 253, 260, 280, 282, 283 e 284), de “liturgia eucarística”, de “Oração Eucarística”, expressões onipresentes, ao passo que a palavra “missa” é apagada, sem falar na expressão “sacrifício da missa”, convertida em algo obsoleto.
Um outro detalhe (não é um detalhe na verdade) é a total falta de alusão ao combate contra os inimigos da vida espiritual, levando o católico a esquecer destes inimigos, bem mais perigosos que um Saddam ou Osama (e bem mais reais, também).
Conclusão
Aparece, assim, uma nova concepção da missa, que não se vive como uma aplicação da Redenção, mas antes como uma liturgia dos que já estão salvos — a do “povo redimido” (Memento da Oração Eucarística III). Em lugar de aplicar, pela mediação do celebrante que obra in persona Christi, as satisfações e os méritos que Cristo adquiriu em seu sacrifício redentor, é todo um povo — “a nação santa, o povo adquirido de Deus, o sacerdócio real” (IGMR 62) — que, na ação de graças, celebra uma Redenção já plenamente cumprida (IGMR 54).
Até aqui, uma colocação aleatória de vários exemplos.
Agora vem a pergunta iniludível e que não podemos calar:
De quem é a voz da esquerda? E a da direita?
Já se ouve há muito falar que o Papa quer a reforma da reforma, e por isso as palavras do cardeal citadas no começo. Desde o ano de 1969 até agora existiram dois missais e duas missas, e não se mexeu diretamente no missal de 62, mas se fez um novo com aqueles elementos que acharam úteis do antigo, como confessa o então padre Annibale Bugnini numa linguagem próxima à blasfêmia no seu livro póstumo “A reforma da liturgia”.
Será que iremos ter no futuro o missal de 62 “bis”?
Será que agora teremos que perguntar: a qual missa o senhor assiste, 62 ou 62 “bis”?
Teremos o missal de 62 “bis” com a festa de São João Paulo II? Deixamos o leitor imaginar como seria a oração para este ‘‘santo’’.
Mas antes deles colocarem as mãos sobre o missal de 62 (que está em continuidade perfeita com o de 1570 de São Pio V) é bom lembrarmos uma coisa:
…e de esta última edição de Nosso Missal, decretamos que jamais nada seja acrescentado, tirado ou modificado, sob pena de Nossa indignação…mas se alguém ousasse tentá-lo, saiba que incorrerá na indignação do Deus onipotente e dos santos apóstolos Pedro e Paulo….
Esta é a voz do Pastor. Todos os outros que não entram pela porta são ladrões e assassinos que roubam e matam as ovelhas.
pelos Padres do Priorado Padre Anchieta
Oi Gi !!! Leio sempre seus artigos mas confesso que acho a linguagem um pouco difícil. Talvez numa linguagem mais simples seu texto tão bem escrito possa atingir mais pessoas leigas como eu. Beijos, Andréa.
ResponderExcluir